Depois das boas vindas, o presidente brasileiro passou a palavra aos representantes da sociedade civil para o relato dos resultados dos Diálogos Amazônicos, que ocorreram no mesmo Hangar entre os dias 4 e 6 de agosto e que serão incorporados à Declaração de Belém, que a Cúpula da Amazônia vai produzir.
Os porta-vozes do debate social entregaram aos presidentes amazônicos documentos com seus posicionamentos. Foram muitas as contribuições trazidas ao debate, dentre as quais um maior rigor em temas como o controle do desmatamento ilegal e da perda da biodiversidade, o combate ao crime organizado e transfronteiriço, a ampliação dos compromissos de preservação e, particularmente, o respeito aos conhecimentos ancestrais e aos povos indígenas e um desenvolvimento social inclusivo, que beneficie os povos que vivem na Amazônia.
ANTES E DEPOIS — Os apontamentos convergem para o que os países amazônicos planejam e o que o presidente brasileiro resumiu na primeira declaração aos convidados. Lula lembrou a urgência que o agravamento da crise climática impõe aos países amazônicos e ao mundo, defendeu a retomada e ampliação da cooperação internacional e disse que a Amazônia é um "passaporte para as relações da região com o mundo".
Segundo ele, os recursos da região serão valorizados e colocados a serviço de todos, em vez de explorados para benefícios de poucos. "Estou convencido que a história da Amazônia será a partir de agora, antes e depois desse encontro. Todo mundo só fala da Amazônia. Agora é a Amazônia que levanta a voz para falar com o mundo", afirmou.
TRÊS PROPÓSITOS — O presidente brasileiro afirmou que a Cúpula se resume em três grandes propósitos, sendo o primeiro a busca de um desenvolvimento sustentável e inclusivo na região, combinando a proteção ambiental com a geração de empregos dignos e a defesa dos direitos de quem vive na Amazônia.
"Precisaremos conciliar a proteção ambiental com a inclusão social; o fomento à ciência, tecnologia e inovação; o estímulo à economia local; o combate ao crime internacional; e a valorização dos povos indígenas e comunidades tradicionais e seus conhecimentos ancestrais".
Outro propósito, afirmou, é o fortalecimento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), "único bloco do mundo que nasceu com uma missão socioambiental". O objetivo é ampliar e aprofundar as iniciativas de cooperação, coordenação e integração entre os integrantes da OTCA e garantir que essa visão de desenvolvimento sustentável tenha vida longa e amplo alcance.
O terceiro propósito é fortalecer o lugar dos países detentores das florestas tropicais na agenda global, em temas que vão do enfrentamento à mudança do clima à reforma do sistema financeiro internacional.
"O fato de estarmos todos juntos aqui – governos, sociedade civil e academia, estados e municípios, parlamentares e lideranças – reflete a nossa firme intenção de trabalhar por esses três grandes objetivos".
Lula defendeu também que o desenvolvimento da Amazônia tem que estar enraizado na ciência e nos saberes da região e envolver todos os atores na busca de soluções. Ele lembrou contradições como o fato de a região ter cultura e biodiversidade ricas, ao mesmo tempo em que pessoas vivem limitações como fome e falta de água potável.
"Estamos empenhados em reverter esse quadro", disse, elencando resultados já alcançados, como o fato de o desmatamento na Amazônia brasileira ter reduzido 42,5% nos primeiros sete meses deste ano. Ele reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento até 2030, estimulando que esse seja um compromisso regional e não apenas do Brasil, e comentou intenção de estabelecer, em Manaus, um Centro de Cooperação Policial Internacional para enfrentar os crimes específicos que afetam a região.